Dia desses eu estava pesquisando para montar uma lista com sugestões de uvas e vinhos para os enófilos iniciantes, a pedido de um leitor do blog. Daí me lembrei que esse pedido foi feito a mim já algumas vezes e pensei: “Por que não escrever um post sobre o assunto? Certamente ele poderá beneficiar outras pessoas também.”
Um relato que eu sempre escuto de amigos próximos e também durante os eventos que organizo, quase que em tom de confissão, é de que as pessoas têm vergonha de comprar vinho por não “saber escolher” em um supermercado ou em uma loja especializada. Admito que no primeiro momento pode parecer assustador mesmo. Afinal, são tantos rótulos, vinhos, uvas, países que os menos acostumados com o eno-mundo podem se intimidar.
Mas com o tempo e, por que não?, com o método da tentativa e erro a gente vai se familiarizando e conhecendo mais das uvas, das regiões, dos produtores e seus vinhos. E, principalmente, do “tipo” de vinho que gostamos ou, ainda mais importante, dos que não gostamos.
Meus 7 “mandamentos” do vinho para iniciantes
Selecionei abaixo os seis aprendizados que obtive ao longo dos anos na hora de comprar vinho:
- Vinho caro não significa vinho bom. A chance é grande, é verdade, mas o vinho pode não agradar ao seu paladar. Ou seja, pode não ser bom para você;
- Vinho barato não significa necessariamente vinho ruim. Significa um vinho mais simples, um vinho em que não se deve ter muitas expectativas de complexidade nem de sabor. Considerando os custos de todo o processo produtivo (a produção em si, marketing, logística, impostos, etc), nos vinhos muito baratos pode acabar não “sobrando” muito investimento para o líquido;
- Em 90% dos casos, o vinho já está pronto para ser consumido a partir do momento que ele sai da vinícola. Ou seja, é “comprou, bebeu”. Aquele velho ditado que “os vinhos melhoram com o tempo” só se aplica aos chamados vinhos de guarda. Esses vinhos, de fato, ficam melhores com os anos de envelhecimento em garrafa pois passam a adquirir aromas terciários que só são possíveis após anos de envelhecimento dentro da garrafa. Nessa categoria estão os grandes vinhos brancos e os melhores tintos do mundo. Para esses grandes vinhos pode ser necessário um tempo de guarda de pelo menos 10 anos! São exemplos de vinhos de guarda: Grands Crus de Bordeaux e Borgonha, Barolo, Barbaresco, Brunello di Montalcino, Chianti Riserva, Supertoscanos e os espanhóis Reserva e Gran Reserva. Aqui no Brasil você não encontrará nenhum deles por menos de R$500 [valores estimados em março/2019];
- O peso da garrafa não tem relação nenhuma com a qualidade do vinho. Nem a presença (ou ausência) daquele “furinho” no fundo da garrafa;
- Escolhendo um vinho no supermercado ou na loja especializada: não precisa levar o mais caro nem o mais barato. Ficou na dúvida do vinho com melhor custo x benefício? Uma dica é: veja o valor do vinho mais barato do local e escolha um exemplar que seja de duas a quatro vezes o valor desse vinho mais barato. Não é uma regra infalível, mas funciona bem na grande maioria dos casos;
- Escolhendo um vinho no restaurante: evite escolher “o segundo mais barato” pois restaurante nunca é um local com bons preços. Não é vergonha nenhuma pedir conselho ao sommelier, principalmente se você já souber qual é o prato escolhido. Lembre-se: a prova do vinho que é feita no restaurante não é para você dizer se gostou ou não do vinho; é para verificar a temperatura (pode estar gelado demais ou “quente” demais) e, principalmente, para certificar que o vinho é saudável e sem defeitos;
- O vinho que vem com rolha de rosca (ou screwcap) não significa que seja de baixa qualidade. Significa que é um vinho jovem e que deve ser bebido logo, sem necessidade de envelhecimento. Não precisa nem ser armazenado na horizontal (já que não há cortiça para ser umedecida pelo líquido). Eu, particularmente, adoro a praticidade das rolhas de rosca. 🙂
Aprendendo a ler rótulos de vinho para iniciantes
Outra grande dúvida dos enófilos iniciantes é como ler o rótulo de um vinho. O rótulo está para o vinho como o passaporte está para as pessoas. Basicamente a grande diferença está nos rótulos dos vinhos produzidos pelos países do Velho Mundo (Europa) e nos rótulos dos vinhos produzidos pelos países do Novo Mundo (Américas, Oceania, África do Sul).
- Nos chamados vinhos do Velho Mundo a informação mais importante do rótulo é a região de onde vem o vinho, bem como seu produtor. Raramente vem a informação da uva pois, ao informar a região e o produtor, já se sabe qual é a uva (ou uvas) daquele vinho. É difícil mesmo! É preciso conhecer bem as regiões para se familiarizar com as informações. Por exemplo: Borgonha. Os tintos da Borgonha são sempre Pinot Noir enquanto que os brancos da Borgonha são sempre Chardonnay.
- Nos chamados vinhos do Novo Mundo as informações são mais claras no rótulo. A uva e o produtor são mais evidentes. Depois vem a região, a safra e o teor alcóolico.
- No contrarrótulo podem vir informações adicionais do estagiamento, harmonização, temperatura de serviço, história do vinho ou do vinhedo, entre outras tantas. São mais comuns nos vinhos do Novo Mundo.
- As informações da safra e do teor alcóolico sempre estão presentes (exceto em vinhos não-safrados, como Champagne), seja no rótulo ou no contrarrótulo.
Escolhendo a uva na hora de comprar o vinho para iniciantes
Se você está começando agora a desbravar esse delicioso e mágico mundo dos vinhos, eu deixo abaixo algumas recomendações de uvas:
Vinhos brancos
- Uma característica importante dos vinhos brancos é a alta acidez, que é o que dá a refrescância;
- Dê preferência para vinhos das uvas Chardonnay, Pinot Grigio, Chenin Blanc, Loureiro e Alvarinho (ou Albariño) (essas duas últimas são as principais uvas dos famosos Vinhos Verdes). Ué, mas cadê a Sauvignon Blanc? Bem, para quem está começando, os vinhos dessa uva podem parecer ácidos demais (a alta acidez é característica dessa uva, assim como a Riesling). Claro que há vinhos sensacionais (os Sauvignon Blanc da região de Marlborough, na Nova Zelândia, não me deixam mentir) mas, para começar, eu iria em um vinho mais “fácil” de beber.
- Lembre-se: vinho branco deve ser servido gelado (entre 7C e 10C).
Vinhos rosés
- O vinho rosé não é a mistura de vinho branco com vinho tinto. Ele é feito de forma parecida com o vinho branco mas utiliza uva tinta, tendo um pouco de contato com a casca para dar a cor. Quanto mais tempo de contato com a casca, mas escuro será o rosé;
- É puro gosto pessoal, mas eu prefiro os rosés que têm a coloração mais leve, independente da uva. Gostei muito de rosés de Tempranillo, Cabernet Sauvignon, Grenache (os da Provence são sensacionais e mundialmente famosos) e Cabernet Franc;
- Os vinhos rosés devem ser servidos entre 10C e 14C
Vinhos tintos
- Uma característica importante dos vinhos tintos é a presença dos taninos, que dão a sensação de “trava” na boca. Alguns vinhos possuem mais taninos que outros, mesmo sendo todos tintos;
- Dê preferência para vinhos das uvas Pinot Noir, Merlot, Cabernet Franc e Primitivo (ou Zinfandel). São vinhos que tendem a ter menos taninos ou taninos mais macios. O processo produtivo também influencia muito; os vinhos que passam um tempo envelhecendo em barrica de carvalho tendem a ter taninos mais macios. Normalmente a informação do envelhecimento consta no contrarrótulo.
- Alguns desses vinhos podem ter corpo mais leve, outros podem ser mais encorpados. A Primitivo, por exemplo, tende produzir vinhos com um dulçor que por vezes parece até que o vinho é suave. Mas vá com cuidado: o teor alcóolico desses vinhos costuma ser bem elevado (pelo menos 14%)
- Vinhos tintos devem ser servidos entre 15C e 18C
Espero que esse post te ajude na sua próxima visita a um supermercado ou loja de vinhos, te dando mais segurança nas suas escolhas. Quer acrescentar alguma coisa ou relatar sua experiência após a leitura desse post? Escreva aqui embaixo nos comentários!
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Saúde, boas compras e bons vinhos!