No meu primeiro post, listei as razões pelas quais você não pode deixar de visitar 8 vinícolas no Chile. Sim, já recebi uns recadinhos dizendo que eu só falei do mainstream do vinho chileno. Sei disso. Porém, procurei privilegiar um roteiro, a princípio, onde existe uma certa estrutura para recepcionar e guiar o turista incomum, porém mais exigente com a infraestrutura: passeios organizados, serviços de transporte, enfim, aquela infra que a chamada indústria do turismo aprendeu a produzir (e nos quais os chilenos são craques). Para os ainda mais diferentes, prometo mais à frente algumas séries, posts e vídeos sobre as pequenas e micro vinícolas, um outro lado da enogastronomia que cresce muito em todas as partes do mundo. Mas vamos com calma!
Os craques do vinho aquém da Cordilheira
Se os chilenos são craques do vinho para além da estonteantemente bela Cordilheira dos Andes, o lado de cá também tem uma seleção de fazer inveja. São também craques do vinho e do turismo em torno desta bebida divina. Eu não vou falar aqui do meu trajeto de Santiago do Chile para Mendoza, de carro, atravessando os famosos Caracoles e o túnel Cristo Redentor com paisagens de tirar o fôlego. Isso será assunto para outro post. Por enquanto, foquemos no vinho.
Mendoza é a maior região produtora de vinhos da Argentina, com mais de 900 vinícolas. Mas somente pouco mais de 100 estão disponíveis para visitação. Já deu pra você sentir o “drama” que é escolher algumas poucas para conhecer, né? 🙂
São três as principais regiões vinícolas em Mendoza: Luján de Cuyo, Valle de Uco e Maipú. É essencial, ao montar o roteiro, escolher vinícolas que sejam da mesma região para otimizar o os passeios e minimizar o tempo de deslocamento.
Diferentemente do Chile, onde fizemos todos os passeios por conta própria, em Mendoza achamos melhor contratar os serviços de um motorista particular de uma agência especializada em turismo de vinho. O único “trabalho” que tivemos foi escolher previamente as vinícolas que queríamos visitar e almoçar, e o resto todo ficou por conta deles: reserva dos passeios e almoços e, claro, o transporte propriamente dito.
Bem, então vamos ao que interessa! 🙂
1- Luigi Bosca (Luján de Cuyo)
Vinícola super tradicional da região, conta com uma visita muito bem estruturada e explicada em detalhes por um guia com muito conhecimento. A visita passa pelas adegas onde estão as barricas de carvalho e termina na loja/wine bar, que no passado era uma piscina de fermentação de vinho para centenas de milhares de litros. É lá que fazemos a degustação dos vinhos (um branco, dois tintos e um espumante, novidade da vinícola!). (news flash: está disponível a 2a edição revisada do eBook sobre vinho, totalmente grátis. Quer saber mais do processo produtivo, das uvas e de degustação? Baixe o eBook aqui).
O jardim é lindo e muito bem cuidado e vale umas fotos também.
Necessário reservar previamente a visita? Sim.
Site oficial da vinícola: luigibosca.com.ar
2- Dominio del Plata (Luján de Cuyo)
Nesta vinícola não fizemos passeio, fomos “somente” para almoçar no excelente restaurante Osadia de Crear, com atendimento, serviço, comida e vinhos impecáveis. Os vinhos servidos são da Susana Balbo, a primeira enóloga (mulher) de Mendoza.
No restaurante tem a opção de menu à la carte ou menu harmonizado de 3 ou 5 passos; optamos pelo menu de 3 passos e valeu muito a pena (entrada, prato principal e sobremesa). O garçom era uma simpatia e a sommelier explicava do vinho que estava sendo servido a cada passo da harmonização.
Foi uma experiência memorável e, de fato, o vinho certo com o prato certo faz toda a diferença!
Necessário reservar previamente a visita? Sim.
Site oficial da vinícola: www.susanabalbowines.com.ar
3- Catena Zapata (Luján de Cuyo)
Uma das vinícolas mais visitadas por brasileiros na região, possui uma das mais interessantes degustações que já fiz. A arquitetura do prédio foi inspirada em uma pirâmide maia. Em seu interior há uma adega circular onde estão dispostas as barricas de carvalho em círculos concêntricos. No centro de tudo, uma imponente sala de degustação que é utilizada para receber a imprensa ou em ocasiões especiais.
Após a visitação das instalações da vinícolas, partimos para a degustação que consistiu em 3 vinhos: um branco e dois tintos. O mais interessante, no entanto, é que foi uma “degustação guiada”. A guia ensinava as instruções passo-a-passo: primeiro a análise visual, depois a análise olfativa e finalmente a degustação do vinho. Após cada vinho degustado, ela pedia nossas impressões e nossas preferências. Para finalizar a degustação com chave de ouro ela cantou, à capela, um tango lindíssimo. Uma surpresa e tanto!
A visita termina na loja/recepção, que conta com uma variedade enorme de vinhos da vinícola, desde o vinho ícone até os mais acessíveis.
Necessário reservar previamente a visita? Sim.
Site oficial da vinícola: www.catenawines.com/pt/index.html
4- Pulenta Estate (Luján de Cuyo)
Essa vinícola tem um dos visuais mais deslumbrantes de todas as que visitei até o momento. Em dia com boa visibilidade, é possível avistar a Cordilheira dos Andes como pano de fundo dos vinhedos.
A visita às instalações da vinícola começa já com a degustação de um rosé ainda do lado de fora do prédio. Na sequência passamos pelos tanques de fermentação, adega onde estão as barricas de carvalho e sala de degustação que tem uma claraboia enorme que fornece iluminação natural ao ambiente (mas que só é utilizada para receber a imprensa ou em ocasiões especiais). Para os amantes da velocidade, há três motores expostos: um de Fórmula 1 da Ferrari e dois Porsche.
Optamos por fazer a Degustação 3, que conta com 5 vinhos (sendo 4 da linha Gran Pulenta Estate) e dividir por nós dois, assim o valor saiu o mesmo da degustação dos vinhos mais simples se fossemos pagar para duas pessoas. Não poderíamos ter feito melhor escolha! O Cabernet Franc deles é simplesmente divino!
Na loja também há a venda de caixa de papelão com isopor dentro para transporte/despacho de vinhos no avião.
Necessário reservar previamente a visita? Sim.
Site oficial da vinícola: www.pulentaestate.com/pt/index.php
5- Salentein (Valle de Uco)
É uma vinícola que fica “aos pés” da Cordilheira dos Andes e só por isso já vale a visita. Conta também com uma galeria de arte aberta à visitação, onde algumas das peças estão à venda.
A visita começa atravessando um longo caminho entre os vinhedos que liga o prédio onde está recepção e a galeria ao prédio que é a área de produção dos vinhos. Fomos andando bem devagar (afinal estamos de férias, pressa pra quê?), apreciando o visual e tirando umas fotos.
Dentro deste segundo prédio passeamos pela sala de fermentação, passamos pela adega onde estão as barricas e também pela máquina engarrafadora do vinho, que não estava em funcionamento no momento.
A arquitetura da adega é bastante interessante: é circular, com as barricas na parte externa do círculo e no centro há um piano. Cada vez mais as vinícolas recebem eventos corporativos e sociais, daí a explicação para o piano “solitário” no meio dos vinhos. No nosso grupo uma visitante se aventurou a tocar Hey Jude e pudemos constatar que a acústica dali é perfeita.
Ao término da visita fizemos a degustação de 3 vinhos.
Na vinícola há também uma pousada, com somente 16 quartos e super exclusiva.
Necessário reservar previamente a visita? Sim.
Site oficial da vinícola: www.bodegasalentein.com/espanol
6- La Azul (Valle de Uco)
Após visitarmos duas vinícolas e degustarmos 9 vinhos, chegou a tão esperada hora do almoço. Nosso almoço neste dia foi na pequena e familiar vinícola La Azul, que fica bem próxima à Salentein.
Assim que chegamos fomos recebidos pessoalmente pelo dono, que também atende no restaurante (falei que era bem familiar!).
O almoço consiste em um menu de 5 passos harmonizados (salada, quesadilla, empanada, prato principal e sobremesa) com o diferencial de que os vinhos servidos durante o almoço são à vontade, all you can drink. Ou seja, não estava restrito a somente uma taça por prato. Preciso dizer que lá foi meu lugar favorito de almoço? 🙂
O local é um charme, as mesas ficam na parte externa com vista para a Cordilheira e o atendimento é perfeito.
Necessário reservar previamente a visita? Sim.
Site oficial da vinícola: www.bodegalaazul.com
7- Trapiche (Maipú)
Para finalizarmos nossa temporada em Mendoza visitamos duas vinícolas na região de Maipú, dessa vez por conta própria. Haviam me falado que dirigir por lá era complicado, pois as vinícolas não tinham muita sinalização e que facilmente quem não conhece, se perde. Bem, sabendo isso, fomos preparados: além de contar com o GPS, imprimi os mapas do Google Maps com as direções e deu tudo certo.
A Trapiche é a maior produtora de vinhos da Argentina e está instalada em uma antiga fábrica, que foi reformada há menos de 20 anos. A visita é interessante, mas diria que é bem padrão. O ponto alto, no entanto, foi quando passamos pela antiga estação de trem (desativada) que servia exclusivamente à vinícola na primeira metade do início do século XX, tamanha era a sua produção e venda à época.
A vinícola também é produtora de azeite e durante a visita é possível avistar sua plantação de oliveiras.
A visita termina com a degustação de 3 vinhos.
Necessário reservar previamente a visita? Não é obrigatório, mas é altamente recomendável.
Site oficial da vinícola: trapiche.com.ar
8- Família Zuccardi (Maipú)
Nesta vinícola optamos por não fazer visita nem degustação, e sim um piquenique super top. Ao chegarmos na Casa del Visitante, nos identificamos, escolhemos o vinho e fomos encaminhados às mesas de piquenique no belíssimo jardim.
Não demorou e a garçonete nos trouxe a cesta com os talheres e taças e, na sequência, as comidinhas do piquenique. Foram dois sanduíches para cada um, além de frios diversos, tábua de queijos, pastinhas, cesta de pães e sobremesa no final. Foi uma experiência super agradável, pois não tínhamos nenhum compromisso depois então degustamos nosso piquenique lentamente, aproveitando cada momento. Tivemos a ilustre companhia da cachorrinha da vinícola, a Manzanilla, que nos ajudou a comer nosso lanche. 🙂
A loja da Casa del Visitante tem bastante variedade de vinhos a bons preços, mas não se compara à loja da vinícola (local de onde saem os passeios) que fica do outro lado da rodovia. Vale a visita!
Necessário reservar previamente a visita para o piquenique? Sim.
Site oficial da vinícola: www.casadelvisitante.com/por
E você, visitou alguma vinícola diferente e gostaria de compartilhar sua experiência? Escreva nos comentários. Vou adorar saber!
Até o próximo post!
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